A PONTE DE ALCÂNTARA
E A ESTÁTUA DE S. JOÃO NEPOMUCENO
Alcântara no séc. XVII
O principal eixo viário para ocidente partia das portas de Santa Catarina para Belém, marginando sinuosamente o Tejo. Lisboa desenvolveu-se tentacular e organicamente ao longo desta via, ilustrado neste troço referente ao vale de Alcântara, com os seus campos de cultivo, enquadrados por extensos olivais e zonas baldias. A jusante, depois da ponte, o moinho de maré com a caldeira. Em direcção ao poente encontramos o largo do Calvário, com o Paço Real e anexos, os conventos das Flamengas e do Calvário, a que se seguem o Palácio dos Condes de Sabugosa e a Quinta dos Saldanhas.
A ponte de Alcântara
O principal eixo viário para ocidente partia das portas de Santa Catarina para Belém, marginando sinuosamente o Tejo. Lisboa desenvolveu-se tentacular e organicamente ao longo desta via, ilustrado neste troço referente ao vale de Alcântara, com os seus campos de cultivo, enquadrados por extensos olivais e zonas baldias. A jusante, depois da ponte, o moinho de maré com a caldeira. Em direcção ao poente encontramos o largo do Calvário, com o Paço Real e anexos, os conventos das Flamengas e do Calvário, a que se seguem o Palácio dos Condes de Sabugosa e a Quinta dos Saldanhas.
A ponte de Alcântara
Alcântara, bairro típico de Lisboa, deve o seu nome à existência de uma ponte – alcântara
significa “a
ponte” (al-qantara
em árabe), que atravessava a ribeira com o
mesmo nome e que a Avenida de Ceuta
cobriu.
A Ribeira de Alcântara tem a sua origem na Brandoa, concelho da Amadora,
e corre pelos vales da Falagueira,
Benfica e Alcântara, percorrendo até ao Tejo, onde
desagua, uma extensão total de cerca de dez quilómetros.
Entra em Lisboa nas Portas de Benfica e está actualmente canalizada
em toda a extensão da travessia do concelho de Lisboa. Os trabalhos de canalização ficaram concluídos em
1967.
A existência da ponte de Alcântara,
inicialmente de madeira, é mencionada desde tempos
muito remotos. Foram os romanos,
quando dominaram a Península Ibérica, por volta do século III, que se lembraram
de fazê-la de pedra, sólida e maciça , como era seu costume, aproveitando a
presença no local de pedreiras calcárias.
Em 1727 a ponte media 90 m de comprimento e 6,20
m de largura. Com o andar dos tempos, Alcântara viu crescer a sua população
e o número de casas o que obrigou, em 1743 a alargar a ponte de 6,20 m para 13,50 m.
Era a ponte formada
por três arcos
de volta inteira com o
tabuleiro horizontal. O arco oriental,
por desnecessário, foi entaipado talvez no século XVIII e o ocidental foi
vedado nos meados do século XIX.
A Ponte de Alcântara, ficava na junção das actuais ruas de Alcântara e do Prior do Crato (D. António), na direcção
desta rua e perpendicularmente à linha férrea que vai da estação de
Alcântara-Terra para a de Alcântara-Mar pelo leito da Rua de
João de Oliveira Miguéis. As cancelas da passagem de nível do caminho de ferro
marcam aproximadamente o vão do arco central da ponte,
e os muros divisórios do terreno do leito da via
férrea marcam a largura da ponte.
Para o lado sul do local da ponte e das suas rampas de acesso era tudo mar, que formava uma grande enseada,
definida a poente pelas actuais Ruas 1º
de Maio e de Alcântara, e a nascente pela Rua do Prior do Crato e Travessa da
Trabuqueta.
A guarda norte da ponte, já reduzida no seu comprimento a 33,7 m,
foi demolida por 1886 ou 1887, para a
construção da estação de Alcântara da linha férrea de Lisboa a Sintra e Torres
Vedras, e ramal da Merceana.
A guarda sul, também já reduzida a 48,7 m de comprimento,
desapareceu em 1888, quando se cobriu o caneiro de Alcântara para assentamento da via férrea que ligava a linha
de Alcântara-Terra a Campolide com a de
Alcântara-Mar.
Com a demolição da guarda sul da ponte desapareceram os últimos
vestígios da sua existência, e quem
atravessa hoje da Rua do Prior para a Rua de Alcântara, nem suspeita que vai passando por cima do
arco de uma ponte, agora subterrado, que teve séculos de existência, e que foi testemunha de vários episódios guerreiros ocorridos na sua vizinhança.
A estátua
de S. João Nepomuceno
Sobre o lado norte da ponte erigiu-se em 1743, uma estátua em mármore de S. João Nepomuceno, protector dos navegantes, obra do escultor italiano João António Bellini de Pádua. O escultor fora salvo de um naufrágio, atribuindo o milagre àquele santo, “aplacador dos mares” lhe chama o artista devoto na legenda latina do monumento.
As dimensões desta obra monumental, são:
Plinto: 1,17 X 1,5 m de frente, e 2,65 m de altura; estátua com a
sua base: 3,35 m de altura; altura total: 6m.
No plinto está esculpida, numa espécie de escudete ou sanefa
talhada na cantaria, a inscrição em latim, cuja tradução é a seguinte:
A S.
João Nepomuceno, novo taumaturgo do mundo, dominador da terra, do fogo, da água
e do ar, e sobretudo aplacador dos mares, um seu devoto, reconhecido para com o seu protector, ergueu
esta estátua no ano de 1743 depois de salvo.
Foi esta estátua , benzida solenemente em 8 de Janeiro de 1744, com a presença da rainha D. Maria Ana de Áustria, mulher de D .
João V, acompanhada dos príncipes.
Com as transformações na zona de Alcântara no século XIX, a estátua
acabou por ser retirada
em 1888, tendo sido, por ordem da Câmara Municipal de Lisboa, depositada no Museu Arqueológico do Carmo, onde presentemente
se encontra.
Túmulo
da Rainha D. Maria Ana de Áustria, mulher de D. João V, no Museu Arqueológico
do Carmo.
A ponte
de Alcântara na história de Portugal
No século XVI, a morte trágica de D. Sebastião, a 4 de Agosto de 1578, na batalha de
Alcácer-Quibir, sem deixar filhos, originou uma crise sucessória. Assumiram-se três principais pretendentes ao
trono de Portugal: D. António, Prior do
Crato, D. Catarina, duquesa de Bragança e Filipe II, Rei de Espanha.
Ficando a luta pelo trono reduzida a D. António, Prior do Crato e a Filipe II de Espanha, o monarca castelhano
determinou a conquista
de Portugal pela via militar.
Foi no sítio de Alcântara, em 25 de Agosto de 1580, junto à ponte velha, quando tudo eram campos,
que se deu a batalha entre D. António,
Prior do Crato e o Duque de Alba, que comandava as tropas de Filipe II, de Espanha.
Depois de duas tentativas falhadas, as tropas de Filipe II acabaram
por derrotar as forças
portuguesas, obrigando o Prior do Crato a recuar para Lisboa. Como resultado
desta batalha, o trono de Portugal ficou nas mãos da dinastia filipina durante sessenta anos.
Marcando este acontecimento histórico, em Janeiro de 1923, foi dado o nome de Prior do Crato à antiga Rua Direita
do Livramento.
Pinto Soares