sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

O CHAFARIZ DA COVA DA MOURA NA AVENIDA INFANTE SANTO


O CHAFARIZ DA COVA DA MOURA NA AVENIDA INFANTE SANTO

O Chafariz da Cova da Moura em 1950

O Chafariz da Cova da Moura na actualidade



Venho aqui apresentar a comunicação que proferi na reunião pública da Câmara Municipal de Lisboa de 27 de Janeiro de 2016 e que mereceu por parte do Sr. Vereador Manuel Salgado a promessa de que a  recuperação do Chafariz da Cova da Moura e a sua possível integração no jardim previsto para o Geomonumento que o contém, iriam ser estudadas e tidas em consideração. Estas são , para já, boas notícias. 


Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
Exmos. Srs. Vereadores
Minhas Senhoras e meus Senhores

Sou João Pinto Soares e aqui represento a Associação Lisboa Verde.

Pretendo chamar a   atenção de V.Exas. para o estado actual do Chafariz   da   Cova   da  Moura na Avenida Infante Santo e para a necessidade urgente da sua recuperação, bem como da salvaguarda do geomonumento que o contem, para usufruto dos Lisboetas.

O Chafariz da Cova da Moura, mandado fazer por aviso de 9 de Fevereiro de 1786, adossado ao Aqueduto das Águas Livres, que o alimentava,   abastecia o  quartel da Cova da  Moura, existente na  antiga Rua  da Torre da Pólvora, tendo ambos (quartel e rua) sido demolidos em 1939 para dar lugar à abertura da Av. Infante Santo.

Encontra-se situado no afloramento calcário com sílex (Cenomaniano, com cerca de 97 milhões de anos) aceite como Geomonumento pela Câmara Municipal de Lisboa, em protocolo estabelecido com o Museu Nacional de História Natural,  em 22 de Junho de 1998,  como    ocorrência geológica a preservar. Este afloramento é delimitado pela Calçada das Necessidades e Av. Infante Santo, Freguesia da Estrela. 

O Aqueduto das Águas Livres está  classificado Monumento Nacional    por  Decreto de 16 de Junho de 1910, publicado a 23 de Junho de 1910.

O Chafariz da Cova da Moura, sendo abastecido pelo Aqueduto das Águas Livres através duma galeria que o liga ao sistema   principal, faz assim parte  integrante  do   Aqueduto   das   Águas   Livres pelo   que se encontra classificado pelo Decreto n.º 5/2002, DR. 42, 1ª série – B de 19-02-2002, como Monumento Nacional (MN). Decreto que alargou a classificação do Aqueduto das Águas Livres aos seus aferentes e correlacionados.

Embora classificado Monumento Nacional,  o Chafariz   da   Cova da Moura encontra-se há muito abandonado e entregue  à degradação provocada   pelos   elementos naturais e pela incúria do homem, sendo inserto  o seu futuro, já  que existe um projecto urbanístico para  o   geomonumento que   o   contem  e  sua zona envolvente, tendo-se iniciado   já as    obras   para    a  construção  do parque de estacionamento subterrâneo para automóveis   na Rua  Embaixador Teixeira   de   Sampaio  e   Av. Infante    Santo  (Proc. 40/EDI/2011 – Alvará n.º 17/CE/3014), investimento   conjunto   da  Empark   e do Hospital CUF Infante Santo, da José de Melo Saúde .

Tais    obras   configuram  a fase inicial de um processo que  engloba também, por um lado, a construção  de   um elevador   de ligação à Calçada das Necessidades, a  construção de um  jardim sobre o geomonumento, e por outro, a construção   de  habitações na parte da   Calçada   das  Necessidades, nos. 8-8A e 10-10A,   projectos   em estudo na CML.

Porque quanto ao Chafariz da Cova da Moura, embora Monumento Nacional, nada   é    referido, a Associação    Lisboa   Verde   vê  com  grande preocupação  a   resposta da Câmara Municipal de Lisboa ao requerimento do Gabinete dos Vereadores do  PCP, de 11 de Março de 2015,  referente à possível recuperação do  Chafariz  da Cova da Moura.

De facto, tal resposta,  parece estar de acordo com os pareceres de   diversas   entidades     que, tendo   como    obrigação   a   defesa do património  nacional, em vez  de propor a   recuperação do Chafariz da   Cova   da   Moura, preconizam   a   sua demolição, tendo  como fundamento o estado de ruína.

Lembramos  que   no   ano   de 1878    também  parte do   Mosteiro     dos Jerónimos esteve em ruínas e nem por  isso foi demolido, antes recuperado. Assim, o chafariz da  cova   da Moura , embora   tenha sofrido   os    efeitos  desgastantes    da passagem    dos   anos,  sem   qualquer   intervenção,  está  em condições de poder ser recuperado, assim  haja  vontade para o  fazer.

Não  queremos   acreditar   que   o desenvolvimento   da   urbanização agora em curso seja a causa da impossibilidade de recuperação do Chafariz da Cova da Moura.

Termino apelando a Vexas. Para que não permitam a  demolição do   Chafariz   da   Cova   da    Moura, antes    procedam    à sua     rápida   recuperação, impedindo  a repetição   dos  atropelos  verificados no   local  no  tempo   do   Estado  Novo ,  quando em Setembro de 1949 se procedeu  à   dinamitação   dos   arcos   do   Aqueduto para  a  passagem da Av. Infante   Santo. Não   queremos que o tempo volte para trás.

Juntamos fotografias   do estado   actual do  Chafariz   da Cova da  Moura e  do  que  ele   era em 1950, quando da abertura da Av. Infante Santo.

                Obrigado pela vossa atenção.

                                                              João Pinto Soares
                                                              Lisboa, 27 de Janeiro de 2016