AS NAUS DA PAMPULHA
Rua Prior do Crato
Quem percorrer a Pampulha e prestar atenção ás paredes de alguns prédios ou monumentos, irá encontrar esculpidos em baixo-relevo, barcos de vários tipos (naus, caravelas, galeões, corvetas). Ninguém sabe ao certo qual a razão de ser de tais esculturas. Naus sem os corvos que as ligariam imediatamente ao símbolo da cidade de Lisboa, o que pretendem representar ? E se aquelas que apresentam a representação de corvos se podem ligar à própria cidade de Lisboa, as outras pensa-se serem a residência de velhos marinheiros que assim quiseram marcar a sua ligação ao mar e à vida marítima.
Trata-se, contudo, de um fenómeno único nas cidades e que mereceu do olisipólogo Norberto de Araújo o texto poético que aqui transcrevemos e que ilustra bem a importância e o significado que tais manifestações de cultura representam para a cidade de Lisboa de uma maneira geral e para a Pampulha em particular.
Trata-se, contudo, de um fenómeno único nas cidades e que mereceu do olisipólogo Norberto de Araújo o texto poético que aqui transcrevemos e que ilustra bem a importância e o significado que tais manifestações de cultura representam para a cidade de Lisboa de uma maneira geral e para a Pampulha em particular.
É este o texto que gostaríamos de vos transmitir:
"Ligam a cidade ao mar estas pedras da heráldica olisiponense. A nau-é um símbolo que transcende da própria jurisdição municipal. Onde estava o navio estava o Senado da Cidade Mas só Lisboa ? Em rigor estava a Nação inteira: cada uma daquelas pedras podia ser uma sigla emblemática de Portugal de todos os tempos.
Estas pedras de naus, com corvos ou sem eles, salpicam Lisboa de visões marítimas. Elas não pretendem falar dos descobrimentos; recuam à tradição de S. Vicente. Mas condensa-se nelas toda a história da marinharia lusa. O seu poder de penetração é igual ao seu potencial de beleza. A sua ingenuidade - é uma força. Nenhuma cidade do mundo possui coisa assim.
Há-as por toda a parte: nos espaldares de velhas bicas e chafarizes, nos cunhais das casa da Câmara, na face de prédios, em quinas, em galilés, em sobreportas, São das mais variadas traças do escopro. Em relevo rude, quase romântico; em modelação macia, como se de ourivesaria fossem, parecem arrancadas das mãos de lavrantes da Renascença; em simples talhe doce, gravura a buril, de ingénuo risco.Começam no século XIV, ao Andaluz, atravessam o quinhentismo, metem-se pelos séculos XVII e XVIII. Cada uma com o seu timbre, com seu jeito, com sua fala - são todas um padrão. Desde a caravela, desde quase da galera até à nau, ao galeão, à corveta - todas significam a mesma coisa. Em qualquer delas tanto se poderia aportar ao Cabo Sacro - como dar uma volta inteirinha ao mundo.
Pela Ribeira Velha e por Alfama, por Santa Bárbara e pelo Beato António, por Arroios e pela Graça, no Castelo, no Bairro Alto, na Fonte Santa, em Alcântara, pela Pampulha fora, ao longo das vielas e betesgas - roteiro das peregrinações dos corvos de S. Vicente, saltando de bairro para bairro - Lisboa deixou a dedada heráldica do seu navio.
Que lindos brincos tem Lisboa nas pedras das naus ! Passando-lhes as mãos pelo relevo e contornos tem-se a sensação que se palpa a espuma do mar. São o elo que prende esta cidade ao seu destino."
Norberto de Araújo
Legendas de Lisboa
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Calçada do Livramento
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AS NAUS DA PAMPULHA
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Chafariz da Fonte Santa - Rua Possidónio da Silva
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