sexta-feira, 7 de junho de 2019

OBRAS DE ARTE DO MUSEU DE ARTE ANTIGA PROVENIENTES DO PALÁCIO DAS NECESSIDADES


A CRIAÇÃO DO MUSEU DE ARTE ANTIGA COMO RESULTADO DA REVOLUÇÃO LIBERAL


Com a abolição das Ordens Religiosas por decreto de 28 de Maio de 1834, logo no dia seguinte ao da convenção de Évora-Monte que acabou com a guerra civil entre absolutistas e liberais, o novo poder entregou ao Estado muitas centenas de objectos pertencentes aos mosteiros.


Estes objectos, nomeadamente quadros foram colocados em depósito no extinto convento de S. Francisco da Cidade onde, desde 1836 está sediada a Academia Nacional de Belas Artes.

Foi, no entanto, necessário esperar até 1882 com a realização da célebre exposição de Arte Ornamental, inaugurada pelo Rei D. Luis I, realizada nas salas do Palácio dos Condes de Alvor, por essa altura alugado ao Estado por um período de trinta anos, para o aparecimento de um Museu Nacional de Belas Artes.

Dois anos depois, o palácio de Alvor seria comprado pelo Estado e receberia as colecções que estavam à guarda da Academia de Belas Artes. Estava assim criado o Museu Nacional de Belas Artes e Arqueologia que passaria, em 1911 depois da implantação da república, a Museu Nacional de Arte Antiga.

Depois da implantação da república dá-se a entrada no museu de nova leva de peças provenientes dos Palácios Reais, entre os quais o Palácio das Necessidades, morada dos últimos Reis de Portugal. 





Custódia de Belém, a mais célebre obra da ourivesaria portuguesa


Mandada lavrar pelo rei D. Manuel I para o Mosteiro de Santa Maria de Belém (Jerónimos), a Custódia de Belém, com mais de 6Kg. de ouro, foi concluída em 1506 e é atribuída ao ourives e dramaturgo Gil Vicente. Foi realizada com o ouro do tributo do Régulo de Quilôa (na atual Tanzânia), em sinal de vassalagem à coroa de Portugal, trazido por Vasco da Gama no regresso da sua segunda viagem à Índia, em 1503.Fazia parte dos objectos  de culto do espólio privado do Rei D. Manuel I. Após a morte do monarca, ocorrida em 1521, a custódia foi legada em testamento ao Mosteiro de Santa Maria de Belém

Destinada a guardar e expor à veneração dos fiéis a hóstia consagrada, apresenta, ao centro, os doze apóstolos  ajoelhados, sobre eles pairando uma pomba oscilante, em ouro  esmaltado a branco, símbolo do Espírito Santo, e, no plano superior, a figura de Deus Pai, que sustenta o globo do Universo, materializando-se deste modo, no sentido ascensional, a representação da Santíssima Trindade.As esferas armilares, divisas do rei D. Manuel I, que definem o nó, como que a unir dois mundos (o terreno, que se espraia na base, e o sobrenatural, que se eleva na estrutura superior), surgem como a consagração máxima do poder régio nesse momento histórico da expansão oceânica, confirmando o espírito da empresa do Rei Venturoso.

Com a extinção das ordens religiosas em 1834, a custódia foi retirada do Mosteiro dos Jerónimos  e enviada à Casa da Moeda para fusão. Salva da destruição pela acção esclarecida de D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, rei consorte de Portugal pelo seu casamento com a rainha D. Maria II de Portugal, esta preciosidade da ourivesaria nacional passou a integrar as colecções de arte que este rei mecenas possuía no Palácio das Necessidades. Com o advento da república, a custódia foi transferida para a sua actual morada, o Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.







O Presépio das Necessidades

Alguns dos mais destacados escultores portugueses dedicaram boa parte do seu trabalho oficinal à produção de presépios para uma ampla clientela.  A apresentação da Natividade num ambiente cenográfico construído em cortiça  é um dos fenómenos mais originais da arte barroca portuguesa. O Presépio das Necessidades, é um conjunto notável, que outrora se   encontrava num nicho junto da porta que dava acesso à Livraria do Convento das Necessidades.  Do autor desta obra conhecemos unicamente a alcunha "Clérigo de Setúbal" , que poderá ser o Padre Inácio da Piedade e Vasconcelos.

         Os quadros contam-se entre as  principais obras de arte transferidas do Palácio das Necessidades para o Museu de Arte Antiga


A preservação e restauro desta obra ficou a dever-se ao Rei D. Fernando II de Portugal