OS SÍTIOS DE ALCÂNTARA E DA PAMPULHA
A PAMPULHA
ulha é um local muito antigo com registos históricos com mais de 500 anos.Começou
por ser uma zona de baldios e olivais atravessados por uma via que,
partindo das portas de Santa Catarina se estendia até Belém,
possibilitando o comércio e com ele o desenvolvimento da área,
levando a que essa zona fosse progressivamente habitada, começando
inclusivamente a instalar-se parte da nobreza com a construção dos
respetivos palácios.
Existe
uma relação comercial e social intrínseca entre a Pampulha e
Alcântara que advém das características decorrentes da existência
da Ribeira de Alcântara cujo estuário possibilitava que os navios
vindos, muitos deles, de Itália descarregassem o trigo que era moído
no Moinho de Marés e, posteriormente, transportado e distribuído
através da Ponte de Alcântara para abastecer a Cidade de Lisboa.
Alcântara, bairro típico de Lisboa, deve o seu nome à existência
desta ponte - alcântara significa “a ponte”
(al-qantara
em árabe). Também o nome “Pampulha” está relacionado com a
referida Ponte, uma vez que, “Pampulha” deriva de Pão da Apúlia
(região de Itália de onde vinha o trigo).
Património
Histórico e Cultural
O
Património Histórico e Cultural é um valor que deve ser partilhado
e usufruído por todos. Infelizmente, na Pampulha tal não se
verifica, estando os principais monumentos entregues a repartições
do estado sem acesso por parte da população, como é o caso do
Convento e Palácio das Necessidades (único Palácio Real que não
está aberto ao público) e do Convento do Sacramento.
Se
por um lado tal situação permite a conservação de tais
monumentos, por outro, não cumpre a sua missão primordial como
elemento de cultura.
Em
contrapartida, deparamo-nos com edifícios históricos abandonados
que poderiam e deveriam ser recuperados pelo Estado no sentido de
minimizar diversos problemas sociais numa zona onde há tanta falta
de infraestruturas para uma população empobrecida e envelhecida,
como é o caso do Palácio Pombal e as respetivas Tercenas e
Dispensário de Alcântara, cuja construção se deve a D. Amélia,
última Rainha de Portugal.
Sabemos
que obras novas vão surgindo nas cidades ao longo do tempo e Lisboa
não é diferente. Mas consideramos importante a possibilidade de
realizar adaptações nos planos de urbanização propostos que podem
fazer toda a diferença na história do local em apreço. Como é o
caso do Empreendimento Alcântara Rio que integrou no seu plano as
instalações da Antiga Fábrica da União, conciliando de forma
harmoniosa uma arquitetura moderna respeitando as memórias do local.
Mas
infelizmente nem sempre esta situação de equilíbrio acontece.
Exemplo disso foi o que, recentemente, aconteceu com a Fábrica
Faianças Constância às Janelas Verdes que foi totalmente demolida
perdendo-se uma página da história fabril de Lisboa e, portanto, de
Portugal. Com a destruição de fachada de azulejos e forno
representativo de arqueologia industrial.
Património
Natural
Também
no aspeto natural a Pampulha e Alcântara (zona do Vale de Alcântara)
se encontram interligadas. A natureza não conhece fronteiras
administrativas, mas tão só barreiras naturais. Assim, demonstrando
essa continuidade gostaria de começar por referir a Tapada das
Necessidades localizada no alto de Alcântara, na Freguesia da
Estrela, com cerca de 10 hectares totalmente murados e densamente
arborizados. É um dos mais notáveis jardins históricos de Lisboa
com um património paisagístico, artístico, histórico e botânico
de grande valor. Em posição dominante sobre o Rio Tejo a sua mancha
verde destaca-se na paisagem da cidade de Lisboa, constituindo um
importante elemento da sua estrutura biofísica, que se prolonga pelo
arvoredo do vizinho Cemitério dos Prazeres e Jardim da Praça S.
João Bosco, das encostas do Casal Ventoso e do Alvito, da Tapada da
Ajuda e do Parque Florestal do Monsanto, formando um corredor verde
ao longo de todo o Vale de Alcântara, constituindo uma mais valia
para a qualidade de vida na cidade de Lisboa.
Conclusão
Sabemos
que qualquer cidade está em constante transformação, no entanto,
cabe a cada um de nós participar ativamente nesse processo. É dever
de todo o cidadão defender o património do sítio onde vive,
interessando-se pela evolução que se vai fazendo na cidade, não
permitindo que as memórias se percam. A consciência desse dever
como cidadão levou-me a procurar a colaboração de quem como eu
partilhava as mesmas preocupações, e assim, nasceu o Blogue
“Gabinete Histórico e Cultural da Pampulha”, que gostaria de
aqui vos apresentar e solicitar a vossa colaboração, através de
trabalhos que contribuam para manter viva e atualizada a maravilhada
história da Pampulha e de Alcântara para que esta não se perca e
possa ser transmitida às gerações vindouras.
João Pinto Soares