terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

em busca de uma lisboa verde

EM BUSCA DE UMA LISBOA VERDE
As varandas floridas de Santos
                       

  


O Sítio de Santos-o-Velho
Santos-o-Velho é um bairro típico de Lisboa, anteriormente conhecido por Mocambo,  que foi aglomerado de pretos já antes do Terramoto, cujo título bairrista teve expressão,  havendo desaparecido da nomenclatura administrativa em 1833 - forneceu a área da qual saíram, a nascente a Madragoa, e, a poente, a Lapa.  Sem confrontações bairristas  oficialmente definidas, trata-se de uma designação  meramente oral, mas o povo  confina este "sítio" entre a Esperança, as Trinas e o Quelhas.
Nos séculos XVI E XVII, predominava o verde, tudo eram jardins, pomares, hortas e vinhedos, com a maravilhosa vita para o  Tejo - a Bela Vista, nome que ainda hoje se mantém na toponímia do Sítio, onde, para além do casario disperso, predominava uma Igreja, um Mosteiro e um Paço.

"Santos"- porquê ? - Os jovens mártires
Diz a tradição que em 307 da era cristã, três irmãos, ainda crianças, de seus nomes Veríssimo, Máxima e Júlia,  filhos de um nobre senador romano, que haviam fugido de Roma para pregar a Fé Cristã, chegando a Olissipo, foram aqui sacrificados à ordem de Tarquínio, delegado de Diocliciano, tendo entretanto os Cristâos escondido dos romanos os corpos dos mártires.
Quando, em 1147, D. Afonso Henriques conquistou Lisboa aos mouros tentou, sem êxito, achar o  paradeiro dos mártires. Até que, em 1260, uma comendadeira do Mosteiro de Santos, por inspiração divina teria encontrado os ossos dos três mártires, tendo então sido construída uma igreja para albergar os seus restos mortais. Entretanto a Igreja, que não é a original, deu origem a um Mosteiro, que depois se transformou em Solar, em Paço e em Palácio.
                         


A Igreja de Satos-o-Velho

D. Sancho I doou aos frades da Ordem Militar de Santiago esta Igreja, junto da qual eles ergueram  suas casas, em comunidade religiosa. Mas breve partiram para aventuras guerreiras para Mértola, Alcácer e diversas terras do Sul, tendo tomado o seu lugar as esposas, as filhas, as viúvas que, por sua vez, e com autorização real, no começo do século XIII , já intituladas Comendadeiras de S. Tiago, estabeleceram aqui uma Casa religiosa. Estava fundado o Convento de Santos.
Em 1490, dois séculos e meio decorridos, as Comendadeiras transferiram-se para Xabregas, constituindo o Convento de Santos-o Novo e este sítio começou a ser Santos-o-Velho.
Em 1629, os Lencastres adquiriram  terrenos, cerca e jardins, tudo menos a praia, que o tribunal decidiu ser pertença da Coroa, e os Marqueses de Abrantes, tendo  habitado o Palácio, nele foram operando transformações e arrendaram-no . Um dos arrendatários: foi o Ministro da França, Conde de Armand (1870). Desta última data até à atualidade nunca mais o Palácio deixou de ser sede da Legação da França., embora a propriedade pertencesse aos Marqueses de Abrantes, que ainda habitavam a parte superior do  Palácio até 1911, ano em , tomando conta de todo o edifício, o Estado francês adquiriu o imóvel  tomando conta de todo o edifício. 
                                                                  
A Igreja, o Convento, o Paço Real e a Embaixada da França
Partindo da Avenida 24 de Julho, que corre paralelamente ao rio Tejo e cujo nome  recorda  as lutas travadas entre liberais e absolutistas e, concretamente, a data de 24 de Julho de 1833 em que o Duque de Terceira e as suas tropas,  depois de atravessarem o  Tejo entram em Lisboa e, proclamam a vitória dos liberais sobre os miguelistas, entramos na área do Paço Real de Santos pela rampa, serventia pública aberta em 1859, designada  Calçada de Santos. Subindo temos o paredão de suporte dos jardins do palácio da hoje Legação da França e da Igreja de Santos-o-Velho. Em 1823, o rio chegava até aqui e a praia, fazia pelo Sul, a defesa natural destes sítios.
Igreja de Santos-o-Velho
No pórtico,  à direita, encontramos  a capela chamada dos Santos Mártires que data  de 1821, construída sobre o lugar de uma outra muito antiga.  No chão da capela, que tem apenas três metros de fundo, pode ver-se uma lápide em mármore rosa .
Reedificada na rampa que descia abruptamente para o rio, mais tarde transformada em aterro, conserva no interior boas talhas. A este templo está ligada a lenda dos Santos Mártires de Lisboa (Veríssimo Máximo e Júlia), perpetuados na capela-mor que fica à direita da galilé, numa lápide de mármore.
É curiosa a envolvente verde da Igreja: do seu adro e do espaço fora dele 
O adro da Igreja, presentemente rodeado de grades e arborizado e do  qual saiam umas escadinhas que levavam diretamente à praia, e que ainda hoje existem, as "Escadinhas da Praia", embora a topografia do local não seja a mesma, que liga a Calçada de Santos à Avenida 24 de Julho.
Já fora da área da Igreja,  encontramos mais uma zona arborizada com bancos e canteiros,  o pátio do Pinzaleiro e um grande canteiro triangular com bancos, que marcam o início do caminho das  Janelas Verdes.
Paço Real de Santos - Palácio dos Marquees de Abrantes
Antigo Solar dos Lencastres, marqueses de Abrantes, ostenta na fachada, o brasão desta família. Foi, no século XVI, um paço real onde residiram D. Manuel, D.João III e ainda D. Sebastião, e anteriormente foa a casa das nobres comendadeiras de Santos- o-Velho. O interior contem pormenores de pintura e cerâmica dos seculos XVII e XVIII de grande valor artístico. Os seus enormes salões abobadados são decorados com pinturas a frescos. Entre eles salienta-se uma pequena sala, cujo teto em forma de cúpula é inteiramente guarnecido de porcelanas e faianças do Japão.



João Pino Soares


 

domingo, 18 de fevereiro de 2024

                                                  O SÍTIO DA ESTRELA

A importância dos conventos e das cercas conventuais  para a cidade de Lisboa e a possível instalação do Museu da Saúde Militar no Convento do Sagrado Coração de Jesus da Estrela 

É uma realidade em Lisboa a existência de um grande número de conventos que, com a sua igreja e "Cerca" adjacentes constituem verdadeiros núcleos históricos que devem ser preservados para a posteridade. As "Cercas" eram espaços murados, que proviam o sustento e o recreio dos religiosos e religiosas  que viviam nos conventos, ao mesmo tempo que permitiam um certo recolhimento e afastamento do bulício da vida exterior. Hoje, as "Cercas" representam verdadeiros núcleos verdes, espaços que contribuem para uma boa qualidade de vida na cidade. Está neste caso, o convento do Sagrado  Coração de Jesus da Estrela, adjacente  à Basílica, que era um convento feminino e pertencia à Ordem dos Carmelitas Descalços.

A Basílica da Estrela, em Lisboa, obra a cargo do arquitecto Reinaldo Manuel dos Santos, nasceu da devoção de D. Maria I ao culto do Sagrado Coração de Jesus, ao qual fez um voto  de lhe erguer uma igreja e convento para as religiosas da Regra de Santa Teresa, pedindo o nascimento de um filho varão, o que aconteceu em 1761. Em 15 de Novembro de 1789, realizou-se a sagração da Basílica com o título de Sagrado Coração de Jesus.

Em 1834, no âmbito da "Reforma geral eclesiástica" empreendida pelo Ministro e Secretário de Estado, Joaquim António de Aguiar, executada pela Comissão da Reforma Geral do Clero (1833-1837), pelo Decreto de 30 de Maio, foram extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e casas de religiosos de todas as ordens religiosas, ficando as de religiosas, sujeitas aos respectivos bispos, até à morte da última freira, data do encerramento definitivo.O convento foi extinto em 29 de Abril de 1885, por morte da última religiosa.

O  Hospital Militar Principal, sediado desde 1837 no antigo convento da Estrelinha, frente à Basílica da Estrela,  expandiu as suas instalações ocupando parte da "Cerca" do Convento do Santíssimo Coração de Jesus, com construções  de ambos os lados da Avenida Infante Santo, artéria que respondendo à necessidade de expansão da cidade de Lisboa, começou a ser construída em 1949 e atravessou a "Cerca" do convento,  dividindo-a ao meio. 

                                               Construção da Avenida Infante Santo, atravessando a “Cerca” (década de 1950)

O Futuro:

Com o fim da actividade do Hospital Militar Principal na Estrela, os edifícios e anexos situados do lado Nascente e Poente da "Cerca" do Convento do Sagrado Coração de Jesus, ficaram desocupados.

Mantendo as tradições  e o espírito que transformou a "Cerca" do Convento  em instalações hospitalares, e aproveitando as construções existentes na ala Poente da "Cerca", a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa comprou ao Ministério da Defesa o espaço ocupado pelo Hospital Militar Principal para aí instalar uma Unidade de Saúde de Cuidados Continuados  Integrados, cujas obras estão neste momento em execução.

Do lado Nascente, junto à Basílica da Estrela  encontra-se o Edifício do Convento, onde, perpetuando a memória da presença da Saúde Militar na Praça da Estrela, seria importante e adequado instalar o Museu da Saúde Militar, envolvido por uma vasta área verde.

Considerando que o Convento do Sagrado Coração de Jesus pertence ao Estado Português sob a administração  da Direcção-Geral do Tesouro e  Finanças e que ao Estado compete a valorização do património a seu cargo e que é de todos nós, e sabendo a grande pressão imobiliária sobre aquele espaço, consideramos, contudo que o solo da cidade de Lisboa não deve ser um banco de terrenos aberto à especulação imobiliária, mas  antes que o interesse colectivo se possa sobrepor ao dos interesses particulares. Assim, preconizamos a instalação do Museu da Saúde Militar no Convento do Sagrado Coração de Jesus da Estrela presentemente devoluto, com aproveitamento ou demolição dos edifícios e anexos entretanto construídos pelo Hospital Militar Principal e actualmente desocupados

Edifício do antigo Convento do Sagrado Coração de Jesus, na Parte Nascente da Avenida Infante Santo, junto à Basílica da Estrela, onde se propõe a a instalação do "Museu de Saúde  Militar, enquadrado num vasto espaço verde.

Anexos do Hospital Militar Principal Junto à Basílica da Estrela, hoje abandonados.

Instalações hospitalares da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, no lado Poente da "Cerca" do convento do Sagrado Coração de Jesus,aproveitando o edifício da antiga Casa de Saúde da Família Militar, edifício com doze pisos.

João Pinto Soares