terça-feira, 14 de outubro de 2014

O RAMAL DAS NECESSIDADES DO AQUEDUTO DAS ÁGUAS LIVRES

O RAMAL DAS NECESSIDADES DO AQUEDUTO DAS ÁGUAS LIVRES





A monumentalidade  do Aqueduto das Águas Livres no atravessamento do Vale de Alcântara com os seus 35 arcos, cujo maior atinge  a   altura de 65 metros.

A  ideia de construir um Aqueduto que pudesse transportar água até Lisboa remonta  ao século III, existindo   ainda hoje alguns vestígios da barragem romana de Olissipo, uma das maiores      da Península     Ibérica, situada no Vale de Carenque, em Belas. No entanto,  até ao século XVIII, Lisboa era abastecida pela  água de poços, cisternas e alguns chafarizes medievais. Foi   a    necessidade    imperiosa    de resolver  as crises cíclicas de falta de água, que levou D. Sebastião, em   1571, a decidir  transportar    a água    a partir do mesmo  local onde     os  romanos  teriam    supostamente    construído    o     seu Aqueduto, projeto    que    foi    abandonado    devido  a  vicissitudes diversas, incluindo a própria morte do monarca.

Em 1731, D. João V assinou finalmente o   alvará que    autorizou a construção   do   Aqueduto   das   Águas Livres, curiosamente  indo buscar a água às mesmas   nascentes, na   Quinta    da Água Livre, atravessada pela Ribeira de Carenque, já  utilizadas pelos romanos. As obras, que  puseram  fim   a  sete  séculos de escassez de água, tiveram início   no   ano seguinte  e demoraram 102 anos a estarem concluídas (1732 -1834) . Foi preciso   esperar    por    1748 para que as primeiras águas chegassem á cidade e por 1834 para     que o Aqueduto estivesse terminado,  contendo por isso a marca de cinco monarcas – D. João V, D. José I, D. Maria I, D. Pedro V e D. Maria II – e de seis mestres principais, Manuel da Maia, Custódio Vieira, Carlos Mardel, Miguel Blasco, Reinaldo dos Santos e Miguel Francisco Cangalhas.

O Aqueduto das Águas Livres, com uma extensão aproximada de 14Km. ,  mais os aquedutos tributários com  aproximadamente 34 Km. e as condutas    para os chafarizes com 12 Km., o que perfaz cerca de 60 Km    de   extensão total, foi perdendo  gradualmente importância funcional, até ser oficialmente seco em1967.

Para a sua construção   foi    usada     uma    tecnologia avançada, absolutamente excecional para a época, que permitiu   que a água fosse transportada   por ação   da força   da   gravidade   desde as nascentes, em Belas, a uma quota de 178.98 metros, até Lisboa, à quota de 94.35 metros.

Essa    tecnologia,   bem    patente     na     monumentalidade     do atravessamento do Vale de Alcântara   com os seus 35 arcos, cujo maior atinge a altura de 65 metros, mas também    pela    beleza  e  funcionalidade  dos 56 chafarizes   ainda hoje   existentes, permitiu   que  o Aqueduto não tivesse sido afetado pelo terramoto de 1755.


No entanto, a grande dimensão da secção  das suas galerias, que   para    mais   frequentemente     se      encontravam acima do solo,   resultou   no  que seria um forte   espartilho     para   a evolução da cidade. Por esta razão, o Aqueduto cedo foi sofrendo    sucessivas demolições logo    a partir do início    do século XX, apesar   de   se   tratar   de  um Monumento Nacional, consagrado e  protegido  pela lei como tal desde 1910. (1)

Está neste caso o Ramal    das Necessidades, amputado em  1955 para a abertura da Avenida Infante Santo.

O Ramal ou Galeria das Necessidades
 

Arcos do Aqueduto   das   Águas Livres, pertencentes ao Ramal das Necessidades, no    Alto     da     Cova   da Moura, demolidos    para  construção da Avenida Infante Santo.

A água, era  essencial para  a    Tapada   das Necessidades.  Como cerca conventual de produção  e   jardim    de traçado barroco   com      fontes e lagos, não teria    sido    possível  a sua manutenção sem a chegada   da    água    em    grandes    quantidades   pelo Aqueduto das   Águas   Livres .

Face   á    insuficiência   da   água na cerca, os Padres Oratorianos, a quem tinha sido cedida por D. João V   a ocupação do convento e respetiva    cerca,  solicitaram   ao    Rei D. José I      que      fossem    abastecidos  pelo Aqueduto das Águas Livres . Embora   contestada pelo povo, a galeria das Necessidades  foi construída   no    final do séc. XVIII.


A Mãe-de-Água ou Pia Redonda, situada no alto da Tapada com um mirante dominando todo o terreno.

O Ramal ou Galeria das Necessidades nasce  nas   Amoreiras    e atravessando o    Arco   do Carvalhão, segue enterrado  até à Mãe de água da Tapada das Necessidades, da qual  saem três ramais: um segue junto ao muro ocidental da Tapada até ao distribuidor da portaria Sul  e  vai abastecer o chafariz e   repuxos  do Obelisco no Largo das Necessidades -  Jardim Olavo Bilac; o  segundo    segue para     nascente, para   fora    da Tapada, seguindo   à   superfície,  atravessa  o vale da Cova  da Moura, atualmente a Avenida Infante Santo, e  segue   até  às Janelas Verdes, abastecendo  o respetivo chafariz   e   o palácio   dos Condes  de Alvor, onde funciona hoje o museu de Arte Antiga e que por essa altura (1755) era propriedade do Marquês de Pombal. Este ramal  permitia ainda  conduzir a água   aos chafarizes  de  Campo   de   Ourique, da   Estrela, da  Praça da Armada, da   Cova   da   Moura   e   das Terras, os dois primeiros já desaparecidos;  o    terceiro ramal, o central, abastece  a Tapada   e   o Palácio e Convento das Necessidades.


Pinto Soares


(1) O Aqueduto   foi classificado   como    Monumento    Nacional pelo Decreto-lei de 16 de Junho, publicado  em 23 de    Junho de 1910, tendo sido elaborada  em 2002  uma    nova redação  com    a    redefinição    do    percurso, detalhando    com mais pormenor  toda a classificação (Decreto de 19 de Fevereiro de 2002).



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