O RAMAL DAS NECESSIDADES DO AQUEDUTO DAS ÁGUAS
LIVRES
A monumentalidade do
Aqueduto das Águas Livres no atravessamento do Vale de Alcântara com os seus 35
arcos, cujo maior atinge a altura de 65 metros.
A ideia de construir um Aqueduto que pudesse
transportar água até Lisboa remonta ao
século III, existindo ainda hoje alguns
vestígios da barragem romana de Olissipo, uma das maiores da
Península Ibérica, situada no Vale de Carenque, em
Belas. No entanto, até ao século XVIII,
Lisboa era abastecida pela água de
poços, cisternas e alguns chafarizes medievais. Foi a necessidade
imperiosa de
resolver as crises cíclicas de falta de
água, que levou D. Sebastião, em 1571,
a decidir transportar a
água a partir do mesmo local onde
os romanos teriam supostamente
construído o seu
Aqueduto, projeto que foi abandonado
devido a vicissitudes diversas, incluindo a própria
morte do monarca.
Em 1731, D.
João V assinou finalmente o alvará
que autorizou a construção do Aqueduto das Águas Livres, curiosamente indo buscar a água às mesmas nascentes, na
Quinta da
Água Livre, atravessada pela Ribeira de Carenque, já utilizadas pelos romanos. As obras, que puseram
fim a sete séculos de escassez de água, tiveram início no ano
seguinte e demoraram 102 anos a estarem
concluídas (1732 -1834) . Foi preciso
esperar por 1748
para que as primeiras águas chegassem á cidade e por 1834 para que o Aqueduto estivesse terminado, contendo por isso a marca de cinco monarcas –
D. João V, D. José I, D. Maria I, D. Pedro V e D. Maria II – e de seis mestres
principais, Manuel da Maia, Custódio Vieira, Carlos Mardel, Miguel Blasco,
Reinaldo dos Santos e Miguel Francisco Cangalhas.
O Aqueduto
das Águas Livres, com uma extensão aproximada de 14Km. , mais os aquedutos tributários com aproximadamente 34 Km. e as condutas para
os chafarizes com 12 Km., o que perfaz cerca de 60 Km de extensão total, foi perdendo gradualmente importância funcional, até ser
oficialmente seco em1967.
Para a sua
construção foi usada uma tecnologia avançada, absolutamente excecional
para a época, que permitiu que a água fosse transportada por
ação da força da
gravidade desde as nascentes, em
Belas, a uma quota de 178.98 metros, até Lisboa, à quota de 94.35 metros.
Essa tecnologia, bem patente na monumentalidade do
atravessamento do Vale de Alcântara com
os seus 35 arcos, cujo maior atinge a altura de 65 metros, mas também pela beleza e
funcionalidade dos 56 chafarizes ainda
hoje existentes, permitiu que o
Aqueduto não tivesse sido afetado pelo terramoto de 1755.
No entanto,
a grande dimensão da secção das suas
galerias, que para mais frequentemente se encontravam acima do solo, resultou
no que seria um forte espartilho para a
evolução da cidade. Por esta razão, o Aqueduto cedo foi sofrendo sucessivas demolições logo a
partir do início do século XX, apesar de se tratar de um Monumento Nacional, consagrado e protegido pela lei como tal desde 1910. (1)
Está neste
caso o Ramal das Necessidades,
amputado em 1955 para a abertura da
Avenida Infante Santo.
O Ramal ou Galeria das Necessidades
Arcos do
Aqueduto das Águas Livres, pertencentes ao Ramal das
Necessidades, no Alto da
Cova da
Moura, demolidos para
construção da Avenida Infante Santo.
A água,
era essencial para a
Tapada das Necessidades. Como cerca conventual de produção e
jardim de traçado barroco com
fontes e lagos, não teria
sido possível a sua manutenção sem a chegada da
água em grandes
quantidades pelo Aqueduto das Águas
Livres .
Face á insuficiência
da água na cerca, os Padres Oratorianos, a quem
tinha sido cedida por D. João V a ocupação do convento e respetiva cerca,
solicitaram ao
Rei D. José I que fossem
abastecidos pelo Aqueduto das Águas Livres . Embora contestada pelo povo, a galeria das
Necessidades foi construída no
final do séc. XVIII.
A Mãe-de-Água ou Pia Redonda,
situada no alto da Tapada com um mirante dominando todo o terreno.
O Ramal ou
Galeria das Necessidades nasce nas Amoreiras
e atravessando o Arco do Carvalhão, segue enterrado até à Mãe de água da Tapada das Necessidades,
da qual saem três ramais: um segue junto
ao muro ocidental da Tapada até ao distribuidor da portaria Sul e vai
abastecer o chafariz e repuxos do Obelisco no Largo das Necessidades - Jardim Olavo Bilac; o segundo
segue para nascente, para fora
da Tapada, seguindo à superfície,
atravessa o vale da Cova da Moura, atualmente a Avenida Infante Santo,
e segue
até às Janelas Verdes, abastecendo o respetivo chafariz e o
palácio dos Condes de Alvor, onde funciona hoje o museu de Arte
Antiga e que por essa altura (1755) era propriedade do Marquês de Pombal. Este
ramal permitia ainda conduzir a água aos chafarizes de
Campo de Ourique, da
Estrela, da Praça da Armada, da Cova
da Moura e das Terras, os dois primeiros já
desaparecidos; o terceiro ramal, o central, abastece a Tapada
e o Palácio e Convento das
Necessidades.
Pinto
Soares
(1) O Aqueduto foi classificado como Monumento
Nacional pelo Decreto-lei de 16
de Junho, publicado em 23 de Junho de 1910, tendo sido elaborada em 2002
uma nova redação com a redefinição
do percurso, detalhando com
mais pormenor toda a classificação
(Decreto de 19 de Fevereiro de 2002).
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