terça-feira, 21 de junho de 2016

FÁBRICA DE BOLACHAS DA PAMPULHA


A FÁBRICA DE BOLACHAS DA PAMPULHA


Eduardo Costa, morador e industrial do Bairro da Pampulha, fundou em 1875 aquela que foi a primeira fábrica de bolachas e biscoitos em Portugal. A Fábrica da Pampulha teve uma produção importante, tendo chegado a produzir mais de trezentos variedades de bolachas e biscoitos. Para além da fábrica tinha um depósito em Lisboa na Rua dos Retrozeiros, 32-34 ( hoje Rua da Conceição) e um outro no Porto,  na Rua D. Pedro, 143-145.


A Fábrica de Bolachas da Pampulha
A Fábrica de Bolachas da Pampulha, situava-se na Cruz da Rocha, entre a actual Travessa dos Brunos, na Pampulha e a Rua 24 de Julho ( hoje Avenida 24 de Julho).

Estava instalada num edifício próprio de cinco pisos, servidos por um elevador. As farinhas chegavam à fábrica na Av. 24 de Julho, por carroças  e eram transportadas para o terceiro piso onde se encontravam as máquinas de preparação das massas. 

Passavam depois para o quarto piso onde estavam as máquinas de cortar e os fornos para cozer e por fim passavam para o quinto piso onde eram seleccionadas e acondicionadas em caixas de folha-de -flandres,  artisticamente coloridas. 

Esta disposição, por andares, fazia sentido se percebermos que o terreno era inclinado e que a matéria prima entrava por baixo, pelo portão do aterro, na 24 de Julho, e saia depois por cima, uma vez que o quinto piso correspondia ao piso térreo da Travessa dos Brunos. No topo, na Travessa dos Brunos, encontrava-se uma vivenda, que era a casa de morada de António Costa.

Em 1902, a revista "O Ocidente" noticiava que na Fábrica da Pampulha trabalhavam 60 pessoas de ambos os sexos, que diariamente produziam 600 quilos de bolacha, sendo exportados por mês, para África, Brasil e Índia, cerca de 30 mil quilos. Chegavam a ser produzidas cerca de 400 variedades de bolachas e biscoitos, sendo a Maria a especialidade da casa.

A qualidade dos seus produtos era seguramente boa porque conseguiu ganhar vários prémios com os seus produtos. Era a época das Exposições  Industriais chamadas Universais e os prémios nelas ganhos conferiam grande prestígio aos produtos. Na Exposição de Filadélfia. em 1876, ganhou uma medalha de mérito da Associação Promotora da Indústria Fabril e em 1878 uma outra medalha na Exposição de Paris. Em Portugal foi premiada na Exposição Agrícola de Lisboa, em 1884 e na Exposição Industrial Portuguesa de 1888.

Da grande variedade de bolachas infelizmente não foi feito qualquer registo, o que era habitual à época, mas percebe-se que o proprietário e os seus descendentes tiveram preocupações publicitárias que se manifestaram pela oferta de produtos promocionais, como calendários e outros.


calendário  dedicado a Bernardino Machado


A apurada qualidade gráfica das suas embalagens e cartazes era manifesta e pode ser constatada nos raros exemplares que vão aparecendo. São normalmente de carácter histórico e nacionalista enaltecendo figuras portuguesas como Bocage e o General Gomes Freire de Andrade. Eduardo Costa era amigo de Alfredo  Keil, daí ter criado um rótulo de A Portuguesa, além de ter criado as bolachas A portuguesa.


Cartaz alusivo à Implantação da República
Como curiosidade e partilhando em comum a memória da industrialização da zona da Pampulha, na área das bolachas e biscoitos, encontra-se o Beco da Bolacha, localizado em frente ao n.º 5 da Rua Ribeiro Sanches, na freguesia da Estrela, e terá sido nesta Rua que houve uma fábrica de bolachas que deu o nome ao beco, designada fábrica de José Maria de Moira, sita na Rua Nova de S. Francisco de Paula, nº 1 (actual Rua Ribeiro Sanches).

O sítio da Pampulha, que remonta aos fins do século XVI, está hoje reduzido à Calçada da Pampulha que  liga a Rua Presidente Arriaga à Avenida Infante Santo e era outrora  conhecida por Rua Fresca ou Rua Direita da Pampulha.

Em relação à etimologia da palavra Pampulha, embora nenhum olisipógrafo avance uma explicação definitiva para a origem do nome, José Pedro Machado no seu Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (1984) avançou a hipótese de a origem estar  em "pão da Apúlia" (pan do português arcaico), indicando o local onde era recebido o trigo vindo da Apúlia italiana.

Pinto Soares

(A partir de elementos in: Semanário ilustrado Branco e Negro; Revista O Ocidente;Ilustração Portuguesa).


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