LENDAS
DA PAMPULHA
A LENDA DA MILAGROSA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DAS NECESSIDADES
A LENDA DA MILAGROSA IMAGEM DE NOSSA SENHORA DAS NECESSIDADES
A
Pampulha é uma região muito antiga da cidade de Lisboa, habitada
desde os anos de quinhentos. Por isso a sua história é muito rica e
variada.
O
topónimo Pampulha designa, atualmente, a calçada que começa no n.º
172 da Rua Presidente Arriaga (antiga Rua de São Francisco de Paula)
e finda na Rua do Sacramento a Alcântara, artéria já existente no
no séc. XVI como estrada alternativa ( a partir da igreja e do Paço
Real de Santos) à que, com início nas Portas de Santa Catarina
(Chiado) pela Calçada do Combro e pela Horta Navia levava a Belém.
Na
centúria de seiscentos já existia como rua, embora despida de
edifícios, que só a partir de então começaram a ladeá-la.
Num
assento de óbito de 1714 (Livro V, p. 85, da freguesia de Santos)
menciona-se a Rua Fresca da Pampulha, e, no “Itinerário
Lisbonense” de 1804, aparece já a Calçada da Pampulha, onde em
edifícios antigos, se veem embebidas nas fachadas curiosas pedras
esculpidas com embarcações de vários tipos, provavelmente
assinalando residências de marítimos.
Embora
restringido pela administração municipal à referida artéria a
partir de certa data, a verdade, porém, é que como no passado
quinhentista o topónimo Pampulha sempre abrangeu o sítio que ela
atravessa, ainda pouco povoado quando, em 1576, se deu a explosão de
146 barris de pólvora armazenados nas tercenas (Armazém, depósito
ou celeiro à beira do rio ou perto de um cais. Antigo estaleiro de
concerto de navios.) ao tempo existentes perto do rio, abaixo das
atuais Ruas das Janelas Verdes e presidente Arriaga, a qual ali
causou estragos e mortes, e chegou a arruinar o paço real de Santos
donde D. Sebastião saíra dois dias antes de irem em romagem ao
Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe e ao encontro de seu tio,
Filipe II de Espanha.
Era
também à altura, o bairro da Pampulha considerado como poiso de
bruxas e de mulheres de adivinhar.
As
Lendas e a História
Como
todos sabemos, a lenda aparece ligada à história, sendo transmitida
oralmente de geração em geração. cada vez que se conta uma lenda
corre-se o risco de alterar o seu conteúdo. “Quem conta um conto
acrescenta-lhe um ponto”.
Ao
contrário dos factos históricos, devidamente registados, as lendas
correm o risco de se perderem. Cabe porém aos historiadores pugnar
para que as lendas se mantenham vivas, pois, por muito fantasiosas
que algumas sejam, todas elas têm um fundo de verdade.
A
lenda da milagrosa imagem da Senhora das Necessidades de
Alcântara.
(1)
A
origem desta lenda data de 1580, altura em que Lisboa foi assolada
por uma devastadora peste que durou mais de 20 anos. A peste teve
como consequência que grande número de pessoas escapassem para o
campo, em busca de melhores ares que lhes permitissem resistir a este
mal.
Foi
na Ericeira, vila próxima de Lisboa, que um casal de tecelões em
fuga da peste se instalou, rezando amiúde numa ermida muito pobre
onde se encontrava uma imagem de Nossa Senhora da Saúde. Como
conseguiram escapar à peste, atribuíram esta graça às preces
feitas a Nossa Senhora da Saúde. Quando regressaram a Lisboa
fizeram questão em trazer consigo a imagem (escondida num saco, para
melhor disfarçar o furto), demandando a Pampulha.
Procurando
abrigá-la de forma digna, escolheram, movidos pela vontade divina, o
local do Alto de Alcântara, onde morava uma senhora muito devota
chamada Ana Gouveia de Vasconcelos, à qual solicitaram um pedaço
de Chão para aí construir uma pequena ermida. A tal senhora, como
era piedosa aceitou tudo o que lhe pediram, tanto mais tendo em conta
a beleza e formosura da Santa Imagem.
Foi
assim construída, em 1604 uma ermida no Alto de Alcântara, no local
onde ainda hoje se encontra.
Feita
a ermida que, no início, seria muito pequena e humilde, colocaram
nela a Santa Imagem e foram tantas as graças recebidas e os milagres
realizados, que começaram a ocorrer gentes pedindo pelas suas
necessidades, razão pela qual a imagem passou a ser designada Nossa
Senhora das Necessidades.
Foram
muitos os milagres entretanto atribuídos à influência da imagem de
Nossa Senhora das Necessidades.
O
primeiro milagre que aconteceu, embora não tenha sido autenticado
por incúria, data de 1610 e foi a cura de uma menina de sete anos de
idade, filha de António Rodrigues que sofreu uma paralisia que a
impedia de andar e de falar. Levada por seus pais a Nossa Senhora das
Necessidades de Alcântara ela se curou, começando a andar e
recuperando a fala. Deste milagre existia uma pintura que se
encontrava na capela.
Um
segundo milagre, ocorrido logo após este e também ele não
autenticado, foi o caso de uma mulher que veio encomendar-se à
Senhora e a pedir-lhe remédio para uma grande necessidade. Não quis
a Ermitoa abrir a Ermida para que ela molhasse no azeite da lâmpada
um lenço que com ela trazia. À vista disto se foi a mulher pôr de
joelhos à grade da janelinha que então tinha e ainda agora tem,
começou a chorar e a pedir à Senhora que lhe valesse. Tendo
entretanto reparado que a lâmpada se havia apagado, voltou à
ermitoa dizendo-lhe que a fosse acender, para que a Senhora não
estivesse sem luz; o que ela logo fez, e entrando ambas viram
acender-se a lâmpada por si mesma e que o azeite dela começava a
ferver de tal forma que derramando-se do vidro e depois da taça da
mesma lâmpada, que brevemente se encheu e se começou a derramar na
Ermida em tanta quantidade, que correu em rego até à porta.
Muito
se celebrou este milagre, de tal forma que durante muitos anos se fez
todos os anos uma festa à Senhora em memoria dele na primeira oitava
do Espírito Santo, que se intitulava a festa do milagre do azeite.
Não
foi só o povo que recorreu à imagem de Nossa Senhora para
encontrar remédio para as sua necessidades, também a família real
se tornou devota daquela imagem.
A
ligação da família real a Nossa Senhora das Necessidades começa
quando D. Pedro de Castilho, conselheiro de D. João IV, comprou as
casas anexas à Ermida para aí construir a sua residência. Nessa
época vivia D. João IV no Paço de Alcântara, sendo habituais as
suas visitas a este local, o que o levou a tornar-se seu protetor. D.
Afonso VI e D. Pedro II herdaram do pai esta devoção.
Quando
em 1705 D. Pedro II está gravemente doente reclama a presença da
imagem, e a sua devoção é recompensada através das rápidas
melhoras que o levaram a escapar da morte eminente. A devoção à
virgem de D. Pedro II transmite-se ao seu filho, D. João V, sendo
habituais as suas idas à ermida. Tal devoção levou a que ao ser
acometido por um paralisia, em 10 de Maio de 1742, pedisse que lhe
fosse trazida a imagem de Nossa Senhora das Necessidades para o
quarto onde irá ficar durante os oito anos que durou esta doença,
sendo-lhe atribuída a resistência oferecida à mesma.
Como
agradecimento pelas graças concedidas, D. João V imaginou um
projeto capaz de engrandecer Nossa Senhora das Necessidades. Querendo
patentear à santa imagem toda a sua gratidão, D. João V converteu
em magnífica igreja a antiga e despretensiosa ermida, e junto a este
pomposo templo mandou construir um palácio para residir. Não
contente com isso fundou aí um convento que entregou aos padres da
Congregação do Oratório. Surgiu assim a Obra das Necessidades.
(1)
– A imagem de Nossa Senhora das Necessidades, aqui representada, e que se encontra no interior da Capela das Necessidades, é a imagem original cujo cabelo é natural . É uma imagem de roca ou imagem de vestir, ou
seja tem a possibilidade de ser vestida. São imagens montadas sobre
estrutura de madeira oca, muito leves, para poderem facilmente serem
transportadas nos andores. Estas imagens podem ainda ser vestidas de
maneiras diferentes.
Na
Paróquia de São Pedro da Ericeira, encontra-se na atual capela de
Santa Marta, uma imagem de Nossa Senhora das Necessidades.
Pinto
Soares