sábado, 13 de janeiro de 2018

RELACIONAMETO DA CONDESSA DE EDLA COM A TAPADA DAS NECESSIDADES, NA FREGUESIA DA ESTRELA



RELACIONAMENTO DA CONDESSA DE EDLA COM A TAPADA DAS NECESSIDADES,  NA FREGUESIA DA ESTRELA


Elise Friederike  Hensler,  nasceu na Suíça em La Chaus-de-Fonds, Neuchâtel, em 22  de Maio de 1836 e faleceu em Lisboa, na Freguesia do Coração de Jesus, em 21 de Maio de 1929, tendo recebido na morte o tratamento e as honras de uma figura de Estado; a rainha D. Amélia e o deposto rei D. Manuel II mandaram o visconde de Asseca como seu  representante ao funeral.

Percurso de vida

Aos doze anos, emigrou com a família para Boston, nos Estados Unidos, onde  recebeu uma cuidadosa educação. Amante das artes e das letras, terminou os seus  estudos  em  Paris. Ao longo  dos anos tornou-se fluente em sete idiomas. Além de cantora  e actriz,  Hensler era escultora, ceramista, pintora, arquitecta e floricultora.

Após o término da sua educação, Hensler actuou no Teatro alla Scalla, em Milão, Itália. No dia de Natal de 1855, em Paris, aos dezanove anos, deu à luz uma menina, batizada Alice Hensler, cujo pai era desconhecido, sendo provavelmente um conde de Milão, do qual esteve noiva.

No dia 2  de Fevereiro de 1860, Elise chegou a Portugal como membro da Companhia de Ópera de Laneuville para cantar noTeatro Nacional de São João, no Porto. Actuou  em seguida no São Carlos, em Lisboa, no dia 15 de Abril de 1860, interpretando o pagem Óscar da ópera “Um Baile de Máscaras”, de Verdi. D. Fernando II, presente à  sessão, apaixonou-se pela bela cantora, então com vinte e quatro anos.




Número 68 da Rua dos Remédios à Lapa, em Lisboa, casa onde viveu em 1860,  Elisa Hensler, mais tarde condessa de Edla, após o seu casamento com D. Fernando II.


Elise Hensler e D. Fernando II, rei  de Portugal

Em 10 de Junho de 1869, desposou  Fernando II,  em Benfica, na capela do palácio de S. Domingos. Recebeu o título de condessa de Edla dias antes da cerimónia, concedido por Ernesto II, Duque de Saxe-Coburgo-Gota. Foi  a segunda esposa de Fernando II  de Portugal, viúvo de D. Maria II. Mulher culta, dedicou-se com  o marido ao apoio de vários artistas, entre eles o mestre Columbano Bordalo Pinheiro e o pianista Viana da Mota.

Vida com D. Fernando II

O casal gostava de se refugiar em Sintra, onde D. Fernando tinha comprado o abandonado Mosteiro de Nossa Senhora da Pena e iniciou sobre os 80 hectares adquiridos, com a cumplicidade da condessa de Edla, a construção de uma das obras  mais marcantes do romantismo em Portugal. As plantações do Parque da Pena intensificaram-se por  volta  de 1869, tendo Elise procedido à introdução de espécies arbóreas naturais da América do Norte.

Também em Lisboa, a grande paixão do rei pela botânica e os largos conhecimentos   que tinha sobre esta ciência, levaram a  que, tendo chamado o jardineiro francês Jean Baptiste Bonard (1841), tivesse levado a cabo um trabalho que transformou radicalmente o aspecto dos 10 hectares da Tapada das Necessidades.

A importação de plantas destinadas aos jardins das  Necessidades e da Pena é  talvez  a  parte mais  bem documentada da contribuição do rei para o incremento da arte de construir jardins.

É de salientar, no entanto, que D. Fernando escolhe para a Pena  uma vegetação   menos exuberante que   para   as Necessidades,  na qual as  palmeiras  são   a  grande  novidade. Para  Sintra são as camélias, os  redodendros e  as  grandes árvores  resinosas  de origem americana ou asiática.

Na zona ocidental   do Parque  da Pena, em 1864, a condessa iniciou a construção de um chalé, o qual ela mesma  projectou  em estilo dos chalés alpinos, localizado face ao Palácio da Pena, mantendo com este uma importante relação visual. Em 1999, o chalé  da condessa de Edla foi  consumido por  um incêndio, estando neste momento aberto ao público depois de um processo de restauro.

Morte

Em 1885, D. Fernando faleceu e, em seu testamento, deixou à  sua viúva todos os seus bens, incluindo o Castelo dos Mouros  e o Palácio  da Pena, ambos em  Sintra. Foi D. Carlos I que, pagando 410 contos à condessa, conseguiu  recuperar  os dois castelos.

Elise  Hensler, depois disso abandonou Sintra e passou a viver com sua filha Alice, que se casou com Manuel de Azevedo Gomes. Faleceu na freguesia do Coração de Jesus, em  Lisboa, aos noventa e dois anos.

O seu jazigo encontra-se no cemitério dos Prazeres, em Lisboa, e recria o cenário verde da Serra de Sintra, que ela tanto  amava. Este jazigo, localizado na rua 2A com o n.º 6399, é da autoria de Raúl Lino sendo composto pela sobreposição de blocos irregulares de granito provenientes da serra de Sintra, assentes numa base quadrada de calcário, envolta em densa vegetação e encimados por uma réplica da Cruz Alta que se  encontra no sítio mais alto do Parque da Pena, em Sintra.



Túmulo de Elise Hensler, condessa de Edla no cemitério dos Prazeres.


Bibliografia
Teresa Rebelo, Condessa de Edla : a cantora de ópera quasi rainha de Portugal e de Espanha.
Lisboa: Alêtheia Editores, 2006 (ISBN 989-622-031-X).

Pinto Soares

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

A PRESENÇA DE AMÁLIA RODRIGUES NA PAMPULHA

A PRESENÇA DE AMÁLIA RODRIGUES NA PAMPULHA




Os primeiros e difíceis anos da vida de Amália  Rodrigues, de seu nome completo Amália da Piedade Rebordão Rodrigues Seabra, filha de Lucinda da Piedade Rebordão e de  Albertino de Jesus Rodrigues, estão indelevelmente ligados ao bairro de Alcântara e à Pampulha.


Nasceu em Lisboa, em 1920, no Pátio de Santos , junto à Rua Martim Vaz, a dois passos da Mouraria, em casa dos avós maternos. Quando tem seis anos de idade, os seus avós mudam-se para o  Pátio dos Quintalinhos, no bairro de Alcântara, onde Amália viverá até aos 19 anos, primeiro com os avós e depois com os pais. 
Vemos assim que grande parte da sua meninice passou-a no bairro de Alcântara, entre o Pátio dos Quintalinhos e a Calçada das Necessidades, o que a levou a dizer que "vivia numa aldeia dentro da cidade".

 A partir de  1929 frequentou a Escola Oficial da Tapada da Ajuda onde completou a instrução primária e onde, numa festa da escola,  cantou pela primeira vez em público. A partir de 1932, depois de terminar a escola primária abandona os estudos de que muito gostava, para ajudar no sustento da família, trabalha então como bordadeira e engomadeira e em 1933 como tarefeira na Fábrica de Bolachas da Pampulha. A partir de 1934 passou a viver com os pais, os quatro irmãos e as três irmãs, sempre na zona operária da Beira -Tejo. Em 1935, durante dois anos, vendeu fruta, num stand no Cais da Rocha, com a mãe e a irmã Celeste, dois anos mais nova.


Vemos, assim, que Amália Rodrigues teve a sua infância intrinsecamente ligada a Alcântara e à Pampulha, nomeadamente à Fábrica de bolachas da Pampulha de Eduardo Costa, situada na Cruz da Rocha, entre a actual Travessa dos Brunos e a Rua 24 de Julho (hoje Avenida 24 de Julho), onde trabalhou em 1933 como tarefeira, e na Rocha de Conde de Óbidos, onde trabalhou como vendedora de fruta.

Em 1935 participou na Marcha de Alcântara, já como solista, interpretando o "Fado de Alcântara". exibindo-se em  ruas e verbenas, acompanhada à guitarra pelo seu tio João Rebordão. 


Amália na Marcha de Alcântara de 1935


Ultrapassada essa fase difícil, em 1939, com 18 anos, estreou-se como fadista profissional no "Retiro da Severa" e a partir  daí a sua fama não parou de crescer, no teatro e no cinema, tornando-se conhecida em todo o Mundo e ascendendo a Símbolo Nacional.   De todo o modo a Pampulha e Alcântara guardam em si a honra de ter participado nos primeiros passos desta grande artista.

Foi casada em segundas núpcias com o Eng.º César Seabra. Faleceu no dia 6 de Outubro de 1999, tendo a sua morte sido sentida por todos os portugueses que lhe prestaram uma merecida homenagem. Os seus restos mortais jazerem no panteão Nacional, local reservado aos grandes vultos nacionais.





                           


Casa onde nasceu Amália Rodrigues
Pátio de Santos, Rua Martim Vaz, N.º 86, actual Freguesia de Arroios.



João Pinto Soares