ÁRVORES, POETAS E POESIA NA PAMPULHA
FERNANDA DE CASTRO
Fernanda de Castro (1900-1994), foi poetisa, dramaturga, romancista, tradutora, autora de livros infantis, desenvolveu, a par da sua notável obra literária, uma acção ímpar em prol das crianças desfavorecidas. Lembrar que no início do século XX, Portugal atravessava um período de grandes carências, resultantes da entrada na Grande Guerra e do surto de tuberculose (pneumónica ou gripe espanhola).
A ela se deve a criação da Associação Nacional dos Parques Infantis; o parque nº 1, criado em 1933 no Jardim de S. Pedro de Alcântara; em 1937 é criado o Parque nº 2, no Campo Grande e, a 20 de Outubro de 1938, o Parque nº 3, na Tapada das Necessidades, hoje escola Fernanda de Castro.
Considerava Fernanda de Castro que para uma educação equilibrada, as escolas deveriam localizar-se no meio de Jardins, contactando as crianças directamente com a Natureza.
OLAVO BILAC
Olavo Bilac nasceu no Rio de Janeiro em 1865 e aí morreu em 1918. É um dos mais notáveis poetas brasileiros , tendo trocado correspondência com a Rainha D. Amélia. O Jardim/miradouro do Obelisco, no Largo frente ao palácio das Necessidades, recebeu o seu nome.
LUÍS FILIPE MAÇARICO
Luís Filipe Maçarico nasceu em Évora, em 29-10-1952. Licenciado pela Universidade Nova de Lisboa - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, em Antropologia, em 26-09-1994, com "Barbeiros de Alcântara - A Identidade Masculina e Bairrista entre estratégias de Sobrevivência e Ameaças de Extinção". Mestrado em Antropologia (Patrimónios e Identidades) no Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, com " Os processos de construção de um herói do imaginário popular - o caso de Santa Camarão". Em 2008 matriculou-se no Mestrado "Portugal Islâmico e o Mediterrâneo", leccionado pela Universidade do Algarve, no Campo Arqueológico de Mértola, que concluiu em 2012, com 17 valores. Figura incontornável da Pampulha, viveu durante muitos anos na Praça da Armada.
ISABEL OLIVENÇA (MISA)
Isabel Olivença (Misa) cultivou, desde sempre, o gosto pela leitura e pela escrita e sente a poesia como "uma janela aberta ao maravilhoso mistério e magia das palavras".
Participa com frequência em workshops de escrita criativa, dedicados à poesia, ao conto e à escrita de viagens. Tem publicado pontualmente crónicas de viagens, participou numa colectânea de contos e em duas antologias de poesia e de prosa; em 2015, editou o seu livro de poesia Poemar.
Nasceu em Lisboa e reside, desde 1981, na Freguesia da Estrela, nutrindo um especial carinho pelos espaços verdes que tão bem conhece, em especial pelo Jardim da Estrela (local privilegiado das suas brincadeiras de criança), pelo Jardim 9 de Abril/Miradouro da Rocha Conde de Óbidos e pelo Jardim Olavo Bilac/Miradouro das Necessidades.
ÁRVORE
ÁR
VO RE
VO
AR
voar
quero
voar
e
voo
de
uma árvore
e
suplico
pelos
salpicos do orvalho
deslizando
das verdes folhas
quero
voar
e
voo
de
uma árvore
para
o mundo
liberto-me
dos galhos
soltam-se
os medos
voo
sobrevoo
o
lado lunar das ruas
rumo
à constelação de leão
equador
solstício
de verão
terra
incandescente
desassossego
VO
AR
quero
voar
e
voo
de
regresso à quietude da
ÁR
VO RE
Ó
árvore
abre
o teu tronco
e
deixa-me entrar
no
país das maravilhas
Misa
2018
Decepadas
Decepadas,
as árvores,
no duro chão
no arenoso solo
decepadas rentes
pelo ventre.
Tombadas,
as árvores,
reinvento-as
azuis
verdes
ocres
fixo-as à retina
habitáculo da imaginação.
Vivem ainda,
as árvores,
nas raízes
na seiva
e sangram
sofrem do corte no ventre.
Irão emergir,
as árvores,
do duro chão
do arenoso solo?
Na natureza
tudo se transforma
e brota.
Misa
CECÍLIA
CUNHA
Cecília Cunha nasceu em
Lisboa no ano de 1952 e reside na Freguesia da Estrela , tendo
dedicado a sua vida às crianças com quem conviveu e acarinhou como
educadora. A sua grande sensibilidade, para além do amor pelas
crianças manifesta-se também na pintura, desenho e poesia que
traduzem o seu modo de estar na vida.
Árvores
sangrando
Árvores
cortadas sangrando seiva,
mostrando
à cidade a vergonha de aniquilar um dos seus bens mais preciosos.
As
árvores morrem de pé.
A
estas até isso lhe foi negado, sendo a sua dignidade mostrada aos
cidadãos passivos, através do cenário dantesco de seiva tornada
sangue e grito.
C/C